Ter orgasmos é uma obrigação?
Suas amigas dizem chegar láhhh múltiplas vezes. Já você, por mais que se concentre, não consegue ter orgasmo em todas as transas. Normal, certo? Não para um número cada vez maior de mulheres. Entenda por que a cama da vizinha é sempre mais quente. Quer dizer, pelo menos na sua cabeça.
Edição Tamara Foresti / Reportagem Letícia Mori / Foto Tamara Schlesinger
Edição Tamara Foresti / Reportagem Letícia Mori / Foto Tamara Schlesinger
Quando Paula, advogada de 25 anos, almoça com as amigas, ouve histórias sobre orgasmos múltiplos e sexo de três horas seguidas. À noite, ao encontrar o namorado, decide que não sairá do quarto até sentir as paredes tremerem. O problema é que o clímax não acontece dessa vez... Não que a moça sempre tenha dificuldade para alcançá-lo, mas, pensando bem, ele não ocorre em tooodas as transas. Será que existe algo de errado com ela? Não, não há. O que impediu Paula de, literalmente, relaxar e gozar foi a pressão que colocou em si mesma. Parece bobagem, mas esse medo de falhar é mais comum do que se imagina. O estudo Vida Sexual do Brasileiro, realizado pelo Hospital das Clínicas de São Paulo, mostrou que quase 51% das mulheres apresentam algum tipo de impedimento sexual — e os dois mais citados foram dificuldade de excitação e de ter um orgasmo. “Percebo que cada vez mais mulheres me procuram preocupadas por não conseguirem chegar ao clímax. Elas acham que têm algum problema anatômico quando, na verdade, apenas internalizaram uma pressão social”, diz a ginecologista Flávia Fairbanks, de São Paulo. Trocando em miúdos, estamos sofrendo com a tal ansiedade de desempenho (sim, a mesma que pode causar ejaculação precoce nos homens). Funciona assim: a pessoa estabelece uma meta (por exemplo: atingir o ápice do prazer em até dez minutos) e, quando não consegue cumpri-la na primeira vez, acha que nunca mais será capaz, mesmo que prove todas as táticas do Kama Sutra. E esses objetivos impostos estão cada vez mais difíceis de ser alcançados. Por exemplo: em filmes eróticos, é comum ver atrizes chegando ao orgasmo por meio da penetração. Logo, as mulheres começam a se cobrar o mesmo prazer na vida real, quando todo mundo sabe que a grande maioria precisa de estimulação clitoriana. E, aí sim, por causa dessas cobranças, pode-se desenvolver uma disfunção — que, vamos deixar claro: tem origem psicológica, não física.
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